Conversas de café


Estar num café pode tornar-se uma expreriência bastante interessante. Sentados numa mesa anónimamente, e se estivermos com atenção, facilmente descobrimos todo um novo mundo.


Entretidos com uma revista ou um jornal, a brincar com o telemóvel ou portátil (como eu estou neste preciso momento) ou distraídos com a pele que irritantemente teima em crescer junto ao canto da unha. Somos praticamente invisiveis.


Enquanto bebericamos a nossa meia de leite morna e roemos um húngaro de chocolate podemos ter acesso gratuitamente a um espectáculo que ninguém admite gostar mas toda a gente adora assistir: as conversas da mesa do vizinho. Não é óptimo?

Dependendo do espaço onde nos encontramos variam os temas de conversa. As conversas que se desenrolam no café "Central de Antuzede" dificilmente serão as mesmas, quer no tom quer no conteúdo , que podemos escutar nos cafés das Galerias Atrium Solum de Coimbra.
Não quero dizer com isto dizer que são melhores ou piores. São apenas diferentes.

Os cafés são desde sempre grandes salas comuns de terapia. Grandes congressos de sabedoria do senso comum. Como uma grande feira conjunta de sabedoria tradicional e popular. São autênticos consultórios, com a diferença de que a consulta é aberta e pública, e pode ser acompanhada de uma coxinha de frango e de um batido de morango. Ou de uma mini e uns simpáticos tremoços.

Em cada mesa se sentam um ou vários "psicólogos" que dialogam sobre os mais variados temas. Desde o futebol à canonização de Dom Nuno Álvares Pereira. Do cabelo de José Cid à inseminação artificial. Da Manuela Ferreira Leita à Alicia Keys. Do padre novo da paróquia do Castelejo que usa meias de lã ao supermercado da Tânia que foi fechado pela ASAE ("ela é cá uma badalhoca...").

Tudo. Mas mesmo tudo é pretexto para uma boa conversa de café: as subidas e descidas da Euribor, as borbulhas do namorado, os brincos da "Pedra Dura", os resultados da Ferrari, o preço do gasóleo, o Ministro da Economia que é um camelo, as camisas da Tommy que alguns ainda teimam em usar, a nova colega de trabalho que já se anda a "bater" ao chefe, o chefe que é um atrasado mental e um misógeno reprimido, a Patrícia da secção de jardinagem que é uma tarada e só pensa em roçar-se em tudo o que se mexa, fale e tenha uma maçã de adão (vulgo cartilagem cricoide da laringe acabaram agora mesmo de me informar), o Ruizito "coitadito" que é "meio apaneleirado", mas "até é boa pessoa".
"O José Carlos Pereira das telenovelas que é um canastrão de primeira e está convencido que é actor" e "o António Cerdeira que parece que tem uma ameixa enfiada no rabo quando fala". "O meu marido que anda cheio de gases" e "ressona que nem um porco" e "a minha mulher que cheira mal da boca e está cada vez mais feia". O meu filho que "é um langão, não estuda e só joga playstation" , "a minha mãe que está cada vez mais insuportável, histérica e só berra".
"A Martina Navaratilova que era uma grande fufa", "o carteiro que me perde as cartas todas desde que a mulher fugiu com o melhor amigo, essa grande rameira". "A Belita do quiosque que vai ser operada às varizes e está sempre a chorar desde que o Clemente comprou a peruca nova", "o Cristiano Ronaldo que está cada dia que passa mais parolo e convencido".

Enfim. Ouve-se de tudo e fala-se de ainda mais. Tudo serve para alimentar este vício nacional.

Bem, vou alí à pastelaria "Tulipan". Até já.




1 comentários:

Xani disse...

Pedra Dura é comigo!
Tulipan também lol diz lá que aquele pão d'avó não é um must?!
"Oh Tina, olhá garota no meio da estrada!"