O “Político arrumador” de Darwin


Portugal tem sem qualquer sombra de dúvida os arrumadores mais característicos da Europa. Igualmente tem alguns dos políticos mais originais e “especiais” de toda esta comunidade.
Porém, vamos dedicar-nos apenas aos políticos corruptos, que podem ou não estar incluídos nos demais citados.
Se Darwin fosse vivo e cidadão português, e dada a sua curiosidade que o fez ser quem foi e o faz continuar a ser quem é, já teria com toda a propriedade tornado este facto um verdadeiro case study.
Facilmente chegaria à conclusão que estas duas evoluções de uma mesma espécie, que provavelmente definiria respectivamente como “homo arrumadoris” e “homo politicus corruptus”, são afinal bem mais similares do que à primeira vista poderiam parecer.
Por entre visitas à Assembleia da República, Câmaras Municipais e a vários parques de estacionamento do país para apreciar a fauna e alvo do seu estudo no seu habitat natural, Darwin chegaria certamente a algumas e interessantes conclusões.

Conclusões que me atrevo a tentar reproduzir:

“São ambos bichos extremamente agarrados ao lugar quando efectivamente o conseguem alcançar e manter. Todavia, antes de o conquistarem de facto, travam batalhas viscerais com os seus iguais. Chegando por vezes no caso de alguns arrumadores a haver migrações para outros estacionamento que considerem mais apetecíveis e propícios ao desenvolvimento da sua actividade. Já o político migra frequentemente de território de forma a conquistar o seu lugar ao sol no poder. Ou vai simplesmente pulando de lugar em lugar dentro dos centros de decisão. De locais para nacionais, de nacionais para europeus, e em alguns casos raros desta variante de bicho político português, de europeu para mundial. Podendo neste movimento transitório mudar de partido político, de ideais ou orientações políticas, podendo abandonar a sua tribo se necessário for para garantir que o seu lugar não está em risco. A sobrevivência sobrepõe claramente a coerência. O instinto animal no seu melhor.”

“Os arrumadores apresentam-se bastante sujos por fora. Já nos políticos é mais comum esta sujidade ser interior” “A podridão habitual nos dentes dos arrumadores bem poderia ser o espelho da alma de alguns políticos”

“Em alguns casos os arrumadores usam as sobrinhas como fonte de rendimento, iniciando-as na prostituição. Já no caso dos políticos é mais frequente observar-se a utilização de sobrinhos condutores de táxi e que vivam simultaneamente no centro da UE. Fenómeno muito comum na tribo “Isaltinius” que habita a zona costeira de Oeiras.”

“Os arrumadores adoram contar tostões. Os políticos corruptos adoram roubar e gastar milhões” “Os primeiros são viciados em heroína, os segundos são viciados em poder, qualquer forma que ele tenha, seja no estado, nas autarquias ou empresas públicas ”
“Ambos pedincham sem qualquer vergonha. Uns pedem trocos os outros pedem votos. Característica comum é também a sua velocidade de propagação. Quer uns quer outros rapidamente se espalham como um vírus ou uma bactéria, alcançando rapidamente grandes áreas”
“Os arrumadores gostam de viver na miséria, desgraçadamente. Os políticos gostam de desgraçar a vida de quem se lhes ousa atravessar no caminho.”
“O arrumador tem a sua “zona”, o político tem a sua “área de influência”
“Os arrumadores vão perdendo progressivamente a dignidade, os políticos na sua grande maioria nunca a tiveram.” “O aumento da dependência de estupefacientes progressivo nos primeiros é semelhante à progressiva da falta de vergonha e carácter de alguns políticos ao longo das suas carreiras.”
“O arrumador vive dos “caldos”, Já o político vive do “tachos”. Mas são ambos exímios no que toca a “caldeiradas”.

“ Alguns políticos comportam-se como autênticos arrumadores. Esperam pacientemente por um lugar vazio para o preencherem não com um carro (como faria o vulgar arrumador) mas com mais um elemento da sua tribo.
O lugar é sempre preenchido por mais um elemento inútil seja ele primo, filho, neto ou sobrinho de alguém com peso na hierarquia. Perpetuando a espécie. Isto vai fazer com que o elemento “corruptus” conquiste a simpatia de figuras importantes, mantendo a sua posição e aumentando a sua esfera e área de influência no seio da tribo. Tornando-o imprescindível na estrutura e uma peça vital na protecção e continuidade da evolução desta terrível e temível espécie”
“Tanto políticos como arrumadores são amiúde vezes amigos da mentira. Fingem frequentemente ser simpáticos e prestar um bom serviço ao resto das espécies, de forma a verem assegurado o seu lugar e alcançarem os seus objectivos, seja dinheiro para mais uma “dose” ou votos para a eleição de uma qualquer Junta de freguesia. Passa-se tanto em zonas rurais como urbanas.
"Quer arrumadores quer políticos distinguem-se dos demais pela facilidade de adaptação a diferentes habitats. Mesmo que hostis.”

“Em termos de seriedade, o arrumador leva vantagem comparativamente ao político, que se comporta como o já estudado camaleão aquando da viagem de estudo às Galápagos. O arrumador não tenta esconder permanentemente aquilo que é. Nem pretende ser mais do que parece. Não procura o branqueamento de situações menos claras em que está ou esteve envolvido. Até porque normalmente não está em condições de o fazer. Encontra-se muitas vezes ressacado e sem qualquer capacidade de raciocinio, chegando por vezes a não saber o seu próprio nome. O arrumador normalmente não falseia ou distorce realidades de forma a enganar e subjugar os demais, sendo já o político perito nesta matéria.
O arrumador é o que é. Quem quer dar moeda dá, quem não quer vai embora. O político corrupto tem tendência a manter-se, mesmo que sinta que ninguém o quer por perto.
Como uma barata procura o calor, ele procura o poder"

“Alguns políticos dizem o que for preciso quando toca a caçar. Mesmo que atente contra a sua honra e/ou da sua tribo, da sua ideologia ou partido político. É portanto um bicho em permanente evolução e cujo estudo se torna bastante difícil se não aprofundado, já que se encontra em constante mutação.
Alguns vegetam na AR, ninho principal já identificado, mas estão espalhados um pouco por todo o país.
Falam de honestidade e seriedade como trunfos sem que estes adjectivos caracterizem a sua própria actuação. Alguns exaltam o progresso da espécie quando eles são a imagem do atraso democrático do habitat que controlam.”

“Normalmente esta espécie Corruptus tende a levar os demais habitantes do meio ao desespero, muitas vezes ao desemprego e miséria profunda. Vivem sem aparente remorso ou arrependimento. Ostentam a sua posição e riqueza sem qualquer vergonha.
Servem normalmente os membros mais ricos e hostilizam os mais pobres, esquecendo-se que foi esta maioria indefesa e por eles trespassada que os levou ao poder na tribo, invariavelmente sob falsas promessa de mudança positiva do habitat e vidas dos que por lá se passeiam.”

A política, como diria o meu bisavô, e sabia bem do que falava então: é a “coisa mais suja que existe à face da terra”.
70 anos depois e face ao que vou assistindo diariamente sou obrigado a dar-lhe razão.
E Darwin certamente também o faria.

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