Hercule Poirot e o caso Maddie


Até hoje ninguém foi capaz de perceber muito bem o que se passou com a pequena maddie.
Um puzzle com muitas peças e que por mais tentativas que se façam parecem nunca encaixar. O mistério continua a assombrar a outrora pacata Praia da Luz como Manuel Pinho nos assombra com as suas previsões para a Economia.
Mas de Maddie nem sinal.
Ninguém sabe se fugiu com o namorado italiano de 4 anitos com quem costumava brincar junto à barraca dos gelados, se decidiu suicidar-se e esconder o corpo ou se foi levada pelo "Fernando cabeludo" que foi banheiro na Praia da Rocha e gostava de passar as tardes a ver os meninos a brincarem na areia enquanto fazia estranhos barulhos com a boca e comia caracóis. Fernando este que entretanto também se encontra desaparecido, Graças a Deus. Ou ainda se pura e simplesmente quis ver até que ponto quer policias quer justiça portuguesa são de tal forma incompetentes que dois anos depois ainda andemos a falar neste assunto que deveria estar encerrado, ou enterrado.
Em qualquer uma destas hipóteses Maddie ou qualquer outra pessoa sabiam, ou pelo menos suspeitavam, que nada se viria algum dia a descobrir. Caso contrário nada se teria efectivamente passado. O que quer que tenha acontecido naquela noite foi feito de forma a permanecer tão invisível e insignificantemente como a presença de alguns deputados na AR.
Um senhor assim para o gordinho, de nome Gonçalo, parece que andou por lá a investigar enquanto ainda era pago por todos nós. Parece também que o local do crime ficou de tal forma contaminado naquele dia que qualquer prova a extrair daquele contexto dantesco seria tão fidedigna como o programa eleitoral do PS nas últimas legislativas.
Não se sabe ao certo o que se passou, mas provavelmente Gonçalo e os colegas por lá andaram a comer arrufadas, guardanapos e mil-folhas enquanto esperavam que a policia cientifica aparecesse (CSI cá do burgo).
O CSI tuga achou que a sala de estar e local do suposto crime estava uma baderna tal que parecia ter sido palco de um comício do Avelino Ferreira Torres. Ainda que o maior crime até então cometido tivesse sido o de colocar aqueles quadros com barquinhos pendurados nas paredes. Por tudo isto o único vestígio de sangue que por ali poderia ser encontrado seria do Pedrito dos carros de choque, que havia trincado a língua com o palito que o costuma acompanhar depois de ter sido pisado pela Telma “Balofa” do algodão doce enquanto dançavam um slow agarradinhos. A sala-de-estar era agora uma pista de dança. A música era “Tu já não és tu” do Toy:
“Tu, já não és tu, o teu olhar mudou, o mar secou e o sol escondeu-se atrás de ti; ”Tu, ja não és tu, ja não sorrís pra mim, não era assim, esse brilho no olhar quando chegavas, a ternura e o calor quando beijavas, estás diferente, tu já não és tu...”
Casaram um mês depois e já nasceu o pequeno Marco. Nasceu com mais cabelo que a Tina Turner e com umas unhas capazes de fazer inveja a uma águia em dia de baptizado na aldeia.
Gonçalo, agora ex-policia e ainda anafado mas já não pago por todos nós, tornou-se escritor e realizador de documentários da TVI. Investiga, diz ele, e dá trabalho à justiça enquanto processa e é processado a torto e a direito. Agora pago por alguém e já não por todos nós. Um festival.

Se Hercule Poirot, esse ilustre detective privado protagonista da maioria dos livros de Agatha Christie , se tivesse deslocado à Praia da Luz para desvendar mais este mistério à partida sem resolução, tudo teria sido bem diferente.
A começar logo pelo supermercado Marrachinho, que teria de abrir uma zona Gourmet para senhor de bigode poder abastecer-se enquanto durava a investigação. Não o estou a ver a ir ao continente de Albufeira muito sinceramente. Muito ripipi para um senhor tão fino.

Mas Poirot saberia desde logo evidenciar que a hipótese mais provável e assumida por todos que sustentava que Maddie teria sido alegadamente levada de acelera por uma senhora idosa e pequenina, mentirosa e misteriosa, seria para afastar linearmente. “peu probable mes amis”
Nunca poderia ter sido a senhora das bolas de Berlim, isto porque Poirot sabia, c´est vrai, que a senhora idosa e pequena de que falavam chama-se afinal Fábio, tem 1,90 e 23 anos, vende bolachas americanas e não Bolas de Berlim e é travesti no conde Redondo. Também conhecido na praça como “Fabiana – a bicha americana.
“Un transsexuel assez fou” díria Poirot escandalizado para o seu fiel amigo Capitão Hastings.

Teria então, e como sempre, de partir do zero.
No local do crime pairava um odor estranho mas familiarmente conhecido no ar. Sentia-se mesmo que disfarçado pelo cheiro dos gases lançados por Gonçalo e colegas depois de derreterem dois ou três pacotes de filipinos de chocolate.
Também em nada se assemelhava ao cheiro intenso a óleo queimado com que a Zundapp de Fábio teimava em presentear os transeuntes cada vez que aquela bicha doida arrancava “ a pleine vitesse” rumo ao desconhecido.
Era um cheiro adocicado e intenso. Quase corroía as narinas. Porém era um cheiro que Poirot conhecia bastante bem, mas que a sua mente de momento bloqueada pelas bufas de Gonçalo não conseguia associar a qualquer imagem, pessoa ou lugar. O cheiro a gás entranhado no apartamento era de tal forma potente que não conseguia aceder a nada que tivesse registado no seu cérebro. Acender um isqueiro teria sido letal, felizmente tinha-se esquecido do cachimbo no aparthotel e a casa tinha gerador caso a luz falhasse.
Tinha de fazer algo, mas francamente não sabia o quê. Acariciava o bigode sempre perfeito e irrepreensivelmente cortado como se o mesmo o aconselhasse.
Decidiu sentar-se na sala agora vazia de vida do apartamento onde tudo se havia passado e ligou o televisor.
As imagens passavam sem que as fixasse ou retivesse, sem que lhes reconhecesse qualquer direito a um mero segundo da sua atenção.
Mas subitamente houve uma figura no ecrã que o fez despertar desta aparente letargia em que se encontrava…
…E voilá! todos os obstáculos que lhe entorpeciam a mente para além do cheiro a rabo que estava na sala se desvaneceram. Tudo o que o impedia de pensar claramente se desmoronou como um baralho de cartas daqueles foleiros com gajas e gajos nus e eis que se fez finalmente luz, na Praia da Luz.
Tudo agora era claro. Tudo se encaixava. Parfaitement.
Na televisão mostravam a figura de Betty, uma septuagenária quase nos oitenta e muito simpática, que Poirot conhecera há algum tempo num jantar de beneficência em prol de crianças desaparecidas organizado pela embaixada francesa em Malta.
Associou imediatamente Betty ao cheiro que o atormentava. Não ao dos mimos rectais de Gonçalo mas o cheiro doce e intenso que o vinha a intrigar. Era inconfundível o aroma.
Nº 5 de Coco Chanel. Conseguiria cheirá-lo ainda que estivesse enfiado num barco da Pescanova depois do Capitão ter estado toda a noite a fazer douradinhos com arroz de cenoura.
Como não tinha percebido logo? Como podia não ter reparado?
O cheiro não provinha de Betty, mas sim da senhora que o acompanhava na altura, muito mais nova e espampanante. Excêntrica o suficiente para envergonhar uma sala inteira.
Na altura Poirot lembra-se de ter pensado que esta senhora seria provavelmente filha de Betty.
Agora pela televisão percebia que a estranha senhora se tratava aparentemente de um homem que se chamava José.
Que confusão “Mon Dieu”. Tinha estado a jantar com Betty, ou melhor Maddie em Malta há apenas 1 mês e não fora capaz de a reconhecer, apesar de tantas fotografias que circulam com o aspecto da menina 2 anos mais velha.
Mas a transformação tinha sido muito grande, apesar de agora Poirot ver claramente as semelhanças, principalmente no sorriso e dentição.
E em boa verdade se diga que naquele jantar as atenções nunca tinham estado voltadas para Betty mas sim para a menina que afinal é um José e que se havia pegado com um empregado depois deste ter afirmado que esta o tinha apalpado. A discussão era grande.
Tudo isto afinal fazia parte de um plano hábil de encobrimento. A bicheza de um homem escondia e abafava o grito suplicante de ajuda de uma menina desesperada.
E havia sido esta a falha de Poirot. É que por vezes o mistério vive às custas do improvável. E muitas vezes o improvável torna o mistério invisível. Para todos.
N'est-ce pas?

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