A culpa é do “Celesticio”!


Como diria a minha vizinha dona Maria, do alto do seu 8º andar Esq., dependurada na sua varanda, e em conversa com o marido, o Sr. Oliveira, mais surdo que a porta de um Castelo (o que me permitiu ouvir a conversa no 7º Dto. onde vivo como se estivéssemos os 3 sentados na mesma mesa), afirmava a dona Maria com segurança: “Ó homem a culpa desta “baga” de calor é do “Celestício”, isto é uma “caloraça” que não se aguenta”.
O Sr. Oliveira continuava a olhar o horizonte, o mais certo é nada ter ouvido…
Fiquei portanto a saber em primeira-mão que a chegada do verão e as altas temperaturas que vamos sentindo são mera coincidência. Um mito que eu entre muitos acalentei durante anos como se de verdade inquestionável se tratasse, quebrou-se ao ouvir as palavras sábias da dona Maria.
Pela conversa deduzi que a dona Maria acredita piamente que o “Celestício” é um indivíduo qualquer que trabalha num armazém dos arredores de Coimbra a tempo inteiro, e cujas funções consistem em regular a temperatura do ar, o controlo da pluviosidade, da humidade, enfim, tudo o que de meteorologia se tratar o Celestício toma conta. É o chamado “carocas”, o faz-tudo destas coisas do tempo, temperaturas e afins.
O Sr. Celesticio funciona para todos os que habitam Coimbra e arredores um bocado como o Sr. Oliveira, que foi 30 anos administrador de condomínio, para o nosso Lote 3. Quando há merdinha da grossa chama-se o Sr. Oliveira para desenrascar.
Mas sempre aos berros está visto porque o senhor padece de surdez.
Para a dona Maria, por qualquer motivo pouco objectivo, o Celestício tem andado com frio, provavelmente anda “mal agasalhado”, talvez durma sem meias se calhar e talvez por isso decidiu por auto recreação “acalorar” um pouco a temperatura da cidade. E esta decisão precipitada teve como consequência imediata levar a Dona Maria e o Sr. Oliveira a passarem a maior parte do seu tempo na varanda, para mal dos meus pecados e dos restantes vizinhos.
É que cada vez que o senhor Oliveira abre a goela o prédio treme.

Ora bem, eu não sei se este primo conimbricense do Solstício, o Celestício, é de facto o causador disto tudo, deste calor que eu julgava ser impossível mas que estou a sentir mesmo sendo quase 2 horas da madrugada. Mas, e apesar de acreditar na Dona Maria e na sua sabedoria empírica sustentada em anos a fio de conversas nos vários andares do prédio, continuo a apreciar a velha teoria que alega que as estações do ano e a chegada do Verão ainda têm algum impacto e influência directa nisto tudo, e no calor que sinto. Sou portanto um conservador nesta matéria. Confesso que me custa ficar refém do Celestítio da Dona Maria.
Ainda que reconheça que a Senhora é um paradoxo de inteligência. E que ninguém neste prédio de 40 fogos grelha sardinhas na varanda como ela, e fá-lo ao mesmo tempo que alimenta os 200 periquitos do senhor Oliveira.

Para mim tenho que a NASA perdeu uma oportunidade histórica de ter nos seus quadros alguém com capacidades fora do vulgar, extraordinárias mesmo. Uma inteligência feminina singular e implacável no que toca ao desconhecido, e que faria certamente doutrina acerca de quase todos os mistérios do Universo apenas baseando-se apenas no empírico, nas conversas de escada e no Minimercado do Sr. Mário.
Muito provavelmente se tal tivesse acontecido por esta altura a Dona Maria estaria a grelhar sardinhas em Marte, com o Celestício, o Solstício, o Sr. Oliveira, os periquitos e o resto da malta que controla isto tudo.

1 comentários:

Anónimo disse...

Tenho de falar com o srº Celesticio, talvez resolva o problema do aquecimento global...
Adoro reuniões de condomínios, são tão esclarecedoras...