Há alguns dias, um amigo meu acabado de aterrar no aeroporto Sá Carneiro vindo de Genebra, enviou-me a seguinte mensagem:
“Mano boa noite!
Hoje senti a aquela pressãozinha de começo do período dos nossos emigrantes veraneantes regressarem a Portugal!
Quando o avião tocou solo luso, as palmas eclodiram entre o pagode…”
Alguns psicólogos justificam este comportamento de algumas pessoas como sendo uma manifestação de libertação da pressão e stress acumulado pré e já durante o voo.
Ao sentirem que realmente tudo correu pelo melhor, soltam as palminhas.
Eu e o meu amigo continuamos, mesmo sem nada sabermos acerca do assunto, a achar que se trata de uma “parolismo” tipicamente português. Uma manifestação clara de ruralidade e provincianismo.
Ou como ele diria ainda na mensagem “…algo que só me lembro de acontecer aquando daqueles voos domésticos, de idosos, provenientes da Madeira e Açores” …
Tenho de confessar que todavia numa certa viagem em que aterrei em Stansteed a nevar como se estivéssemos na estrada do Sabugueiro a coisa foi diferente. Não por venderem cães da Serra, queijos e daquelas chinelas felpudas, mas pelo inesquecível alivio que senti.
Em pleno Inverno Inglês, e depois de umas valentes sacudidelas só comparáveis a uma viagem de 2€ na montanha russa da feira popular da Picheleira, estava disposto a tudo, daí a excepção.
Nessa manhã gelada de Março eu bati palmas, ri-me muito, chorei mais, abracei uma senhora idosa até a placa lhe saltar da boca enquanto ela dizia “oh god! oh god” atarantadinha de todo e se urinava pelas pernitas abaixo.
Fui dar um beijo de profundo e sincero agradecimento a uma pessoa, que pelas vestes julgava ser o comandante, e só mais tarde percebi tratar-se de um Panamiano que ia participar de uma Parada Gay em Picadilly Circus.
Tudo isto depois de 3 garrafinhas miniatura de Gordon´s, 2 kit kat e 3 rissóis de camarão que a Dona Ester, que vinha de Viana do Castelo e ia visitar o filho que estudava em Oxford, trazia no seu tuperware esverdeado. Cedeu-me ainda gentilmente uma das 5 garrafinhas de jeropiga de 20 cl que a tia do rapaz tinha mandado do Fundão e que iam acomodadas junto às alheiras, morcelas e chouriças, que imagino terem feito as delícias de uma das camaratas de um colégio.
Mas tudo isto foi um caso isolado. Devo dizer que estava atordoado não só pelas pancadas causadas pelo mau tempo que se fazia sentir a 20 mil pés e pelas inúmeras bolsas de ar que passámos, mas também pelo cheiro a Axe misturado com sovaco alentejano que os irmãos Santos de Beja exalavam, e que eu tinha tido a infelicidade de me acompanharem nesta viagem um de cada lado.
Iam participar numa feira agrícola em Brighton e aproveitar para “ visitar uns calhaus gigantes que o nosso primo Evaldo de Moura diz serem muito bonitos”. Pela descrição, e entre os desmaios causados pelo cheiro que se fazia sentir, penso estarem a referir-se a Stonehenge.
Já em Londres, ainda pensei gravar uma tatuagem numa loja do Soho com o nome "Michael Smith" , precisamente o nome do homem que pilotava o avião da companhia low cost RyanAir, mas além de achar um bocado abichanado era o dia da Parada Gay ali perto (a do Raulito lembram-se?), e eu não queria estragar a minha vida, optei por me ficar pelas 5 ave-marias e 3 pais-nossos na Igreja de Saint-Martin-in-the-fields.
Pensando bem em tudo isto e resumindo já não me parece tão mau o bater das palminhas.
Antes suportar isto do que acabar a servir de comida aos peixinhos no meio do Atlântico ou aterrar numa casa de banho de um 22º andar.Ao fim ao cabo, enquanto formos ouvindo as mãozinhas irrequietas a bater no final de cada viagem que fizermos é sinal que por cá andamos.
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