O nosso país continua a ter a bizarra e desconcertante mania, revestida de fetiche diria eu, e com acabamentos em lacado de pura patetice de eleger para a A.R. deputados cujos comportamentos me fazem pensar que realmente merecemos tudo isto que temos passado. Isto não seria preocupante se estivéssemos a votar para eleger quem nos vai representar no euro festival da canção, a ser o caso seria mesmo indiferente porque a figurinha triste que fazemos é sempre igual, tirando os 12 pontinhos da vizinha Espanha, que assim vai dando umas migalhinhas ao irmão mais novo e mais pobre, (ainda que hoje em dia seja mais uma versão “roto ao nu”…), e vai assim pacificamente roubando a água das barragens e electricidade enquanto andamos entretidos a ver uma lésbica de viola em riste a dissertar melodiosamente sobre fruta tropical, ou um grupo Heavy Metal de Penafiel a cantar temas sobre os descobrimentos. Se houver chatice os espanhóis alegam que deram 12 pontos à fufa e está o assunto resolvido.
Tudo isto seria normal se os deputados que elegemos não fossem efectivamente quem vai legislar, criar os decretos-lei, decidir e definir orientações em diferentes matérias, e por isso influenciar e condicionar a todo o momento a forma como vivemos, ou melhor, sobrevivemos.
Por tudo isto é-me difícil compreender que alguns deputados sejam pagos a peso de ouro e continuem a ser eleitos por todos os tolos que ainda se dão ao trabalho de ir votar, entre os quais a minha pessoa, para andarem pura e simplesmente a “pastar” pela A.R protegidos pelo guarda-chuva eleitoral de um sistema democrático que ainda não descobriu a formula milagrosa de afastar os idiotas dos centros de poder.
Deputados há que nunca se pronunciam ou intervêm na A.R. Durante anos a fio vegetam se preciso for sem nunca lhes ser ouvida a voz. Isto quando se dignam sequer a aparecer para votar ou participar nos debates, porque é comum estarem constipados muitos dias por ano, em especial quando as nossas equipas de futebol vão jogar ao estrangeiro. Esta vergonha dura há anos e ninguém no poder parece estar muito preocupado, talvez porque quem tem o poder para alterar este facto esteja no mesmo barco, e remar contra esta maré de oportunidades e conluios seria dar um tiro no próprio pé, hipotecando o futuro e a reforma dourada.
Como diria a senhora Rosa da perfumaria Central de Alcoentre “Eles querem todos é poleiro…”, ou o seu marido Camilo mais incisivo e menos aveludado no que toca a expressar-se verbalmente “eles são todos é uma manada de cabr…s”
Em algumas bancadas parlamentares existem deputados chearlerder. Estes deputados fantoche em termos políticos não servem para nada para além do espaço que ocupam ajudando a compor o figurino do partido na sala do Senado. A única contribuição é o apoio constante que dão à meia dúzia, sempre os mesmos, que fazem questão de usar a palavra. Os ousados lá do sítio.
Os chearleaders são facilmente identificáveis no seio da A.R. Isto porque passam as tardes e as manhãs de debate seja qual for o assunto a dizer “Muito bem”, “Muito bem”, “Muito bem” quando e enquanto os colegas de bancada se dirigem à Assembleia. Não dizem rigorosamente mais nada, não fazem absolutamente mais nada, só respiram, assoam-se, dormitam, espirram, bufam-se, vão ao Gambrinus comer um bife, vão ao elefante branco beber uma taça de espumante e pôr em prática o novo acordo ortográfico, despem o fato e gravata, dormem umas horas, vestem o fato e gravata, recebem o taco ao fim do mês, e dizem “Muito bem” 4500 vezes por semana. Uns mais guturais, outros mais efeminados e estridentes, mas todos com aquele ar sapiente e entendido de quem está de acordo com tudo o que está a ser dito, mesmo que não percebam patavina do tema e estejam mais preocupados com o Sr. Manuel que ficou de ligar para ir colocar as persianas térmicas no apartamento novo da Lapa e ainda não disse nada.
O pior de tudo isto é que tudo isto é possível neste país e acontece todos os dias. Não é ficção. Os “Muito bem” existem, continuam a existir, e enquanto assim for isto está tudo “Muito mal”.
Cartão de cidadão
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