Numa primeira e desatenta análise, se nada soubessemos acerca do evento, e pela quantidade de gente cabeluda envolvida, poderiamos cair no erro de achar que se tratava de uma representação a óleo de uma jantar da concentração anual do motoblube de faro.
Os motards cabeludos falavam de tudo, mulheres, futebol, emprego, dos filhos, sobrinhos e enteados, de escapes de alto rendimento, harley davidson´s etc. Tudo menos de religião, até porque não existia ainda, pelo menos como hoje a conhecemos. Começaria a nascer um pouco mais tarde, logo após a ceia. Que se revelou ser por esse motivo profética.
Se repararmos uma das figuras à direita de Jesus, vemos facilmente que esta se aproxima do senhor e lhe transmite algo com um dedo levantado, atenção apenas um e não dois como Manuel Pinho, provavelmente este apóstolo na altura segredou-lhe: "Já calculas quem é que vai pagar a conta disto tudo, não é verdade, Cristo?
No fundo, desde o ínicio que é sempre o mesmo desgraçado a ser crucificado. Até na hora de pagar a dolorosa.
Mas para mim o mais dificil seria imaginar uma ementa para esta ceia, que milhões acreditam ter sido efectivamente a última de Jesus. E falo de um jantar e não de snacks como bolachas, barritas ou iogurtes liquidos, isso não conta. Imaginar que iguarias fariam sentido para uma ocasião destas, tão marcante e especial.
Eu, numa empreitada culinária desta magnitude, se imaginasse que iria influenciar a vida de milhões e milhões para sempre, não me ficaria pelo pão e vinho ao jantar. Até porque "sopas de cavalo cansado" nunca fizeram bem a ninguém, ao contrário da crença alimentada por muitos no tempo da "outra senhora", enviando os miúdos embriagados para a escola logo pela manhã, com os queixos cheios de vinho tinto.
Adiante.
Se até nos controversos EUA (em que em alguns estados a pena capital ainda é aplicada) o "dead man walking", antes desta sua derradeira caminhada, tem direito a uma última refeição inteiramente escolhida por si (...e se lhe apetecer uma cabidela de leitão meus amigos, os serviços prisionais que venham à Mealhada num instante porque há um moribundo com fome) porque razão Jesus, teria de ficar pelo pão e vinho?
Compreendo o desprendimento dos bens e prazeres mundanos, o corpo de Deus, o anti-gulismo, e principalmente o problema do colesterol com níveis elevados, mas meus senhores: Pão e vinho? Estamos em alguma taberna? Já agora saiem uns caracóis para a mesa 3 ? Umas minis e um pica-pau ?
Nem 8 nem 80! Vamos lá equilibrar um pouco a coisa...
Por isso, atrevo-me a tentar reproduzir esta última "tainada" entre amigos e "irmãos de fé", com uma ementa alternativa, de forma a procurar tornar este convivio menos sensaborão e mais agradável ao paladar, sem que ao mesmo tempo pareça uma festa de estudantes Erasmus.
Como não se vê criadagem na figura de Da Vinci, imagino que se tenha tratado de um jantar volante, com várias mesas de apoio, em que cada um se servia à vontade antes de se sentarem junto a Jesus na mesa principal
Então o Menu da festa da despedida ao camarada Jesus seria assim:
Mesa das Entradas:
Pão de Deus
Ovos à Franciscana
tábua de queijos: Queijo de São Jorge e de São Domingos
Sopa à Moda da minha Mãe (Maria)
Mesa de pratos principais:
Bacalhau à "Senhor Prior"
Bode à Vovó Severina
Chanfana à "Senhor da Serra"
Bacalhau "Espiritual"
Coelho das Lezírias de Sto. Antão
Lulas Recheadas à "Carpinteiro"
Mesa de sobremesas:
Papos de anjo
Barrigas de freira
Celestes de Santa Clara
Manjar dos Deuses
Bolachas de bom Jesus
Pitos de Santa Lúzia
Delicias de Frei João
Toucinho do Céu
Fruta da época
Vinhos: Quinta de S. Francisco Óbidos (DOC)
Digestivo: Aguardente Bagaceira São Domingos com bolachas do "Bom Jesus" e "Madalenas" a acompanhar
Bom apetite!
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